Festival do Rio 2016

 

Marcia Rangel Candido, Cleissa Regina Martins, João Feres Júnior e Luiz Augusto Campos

 

Festival do Rio 2016 é o terceiro de uma série de infográficos do GEMAA* que descrevem a distribuição de gênero, raça e região em grandes eventos culturais. Festivais e premiações são fontes importantes de aquisição de prestígio para a produção artística. Seja no cinema ou na literatura, o perfil predominante de contemplados em boa parte destes eventos é o mesmo: masculino, branco e europeu. Se já é preocupante isso acontecer no Prêmio Nobel de Literatura, organizado pela academia sueca, é ainda mais dramático que o mesmo padrão se repita no Festival do Rio**, que transcorre em território brasileiro.

Os europeus representam 34% dos/as diretores/as que participaram do Festival, seguidos das pessoas provenientes da América Central e do Sul (31%), da América do Norte (22%), da Ásia (8,5%), da África e da Oceania, ambas com 2%. No que diz respeito à interação entre raça e região geográfica, a proporção de diretores brancos de lugares que tiveram um passado escravocrata ou colonial é grande: 100% na Europa, 93% na América do Norte e 92% na América do Sul e Central. O continente africano, a despeito da grande proporção de negros, participou com 50% de diretores brancos, contra 50% de negros.

Entre o total de diretores e diretoras, 89% são de cor branca. Os asiáticos (5%) participaram mais do Festival do que as pessoas classificadas como não-brancas (4%).  A comparação entre Brasil e Estados Unidos permite demonstrar que, mesmo partilhando do passado escravocrata, os negros do Brasil têm um índice de representação muito menor (14%) do que os dos Estados Unidos (46%). Tal índice é calculado pela razão entre a porcentagem de filmes dirigidos por negros (7% no Brasil e 6% nos EUA) e a sua proporção na população do país (51% no Brasil e 13% nos EUA).

Por fim, no que toca a representação de gênero, 78% dos diretores são homens e, consequentemente, 22% mulheres. Os homens dirigem mais tramas de ficção (65%). Em segundo lugar vêm os documentários (34%) e depois animação (1%). Já as mulheres dirigem mais documentários (66%) do que longas de ficção (42%) e animação (2%). Contudo, no total geral de documentários os homens são maioria (69%) contra 31% de mulheres. Este dado contribui para a lançar dúvida sobre o senso comum que atribui domínio feminino no campo dos documentários.

Nos dias de hoje, a diversidade humana é objeto de conflitos políticos e demandas das mais variadas por reconhecimento e tolerância. Não há neutralidade nesse assunto e as escolhas feitas por instituições públicas e privadas devem ser julgadas de acordo com seus resultados em termos de representação ou inviabilização de grupos humanos.

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Festival do Rio 2015. Disponível em: https://gemaa.bemvindo.co/publicacoes/infografico/infografico4.html

Prêmio Nobel de Literatura (1901-2016). Disponível em: https://gemaa.bemvindo.co/publicacoes/infografico/infografico9.html

**O Festival do Rio ocorreu entre os dias 06 e 16 de outubro de 2016. Consulte a programação em: http://www.festivaldorio.com.br/